A sociedade do espetáculo?
O Mass Games é uma das principais ferramentas da Coreia do Norte para se exibir ao mundo
Coreia do Norte, agosto de 2019
A dinastia Kim ocupa a cadeira política mais importante da Coreia do Norte há quase 80 anos. Por meio de Il-sung, Jong-il e Jong-un, tem governado a parte norte da península coreana com um pulso firme sem paralelo no mundo atual — países como o Turcomenistão talvez se aproximem disso —, aplicando um controle quase impecável de informação e outros elementos-chave que compõem uma sociedade contemporânea. Eleição após eleição, embora os pleitos se deem sem oponentes de fato, a família Kim se perpetua no poder, e investe nos mais diversos mecanismos à sua disposição para que a maré não mude sob hipótese alguma, sobretudo em um cenário em que o governo é acossado o tempo todo por agentes externos que tentam desestabilizar o país.
Em minha visita de dez dias à Coreia do Norte, em agosto de 2019, o roteiro incluía, de forma opcional, a oportunidade de assistir ao Mass Games. Ainda que não fosse mandatório, era praticamente criminoso ficar de fora desse momento, e, assim como todos os outros integrantes do tour, desembolsei os 200 euros necessários para ver uma das maiores atrações artísticas da Coreia do Norte, e não ficar obrigatoriamente confinado dentro do hotel cantando na sala de karaokê, aproveitando a piscina ou comendo. Até então eu não sabia exatamente do que se tratava, mas sabia que seria algo grandioso, como praticamente tudo o que é apresentado aos estrangeiros de passagem pelo país.
Uma das ferramentas mais importantes de sobrevivência de um governo, de uma nação ou de uma sociedade é a propaganda. E esse não é o caso apenas da Coreia do Norte. Os recursos bilionários investidos nesta frente por agentes políticos servem para mostrar os feitos de um líder a seu povo, inflar o sentimento patriótico e para um país exibir ao mundo o seu poder político, econômico, social, militar, intelectual ou turístico — e muitos outros pilares. A propaganda, no fim das contas, está presente em quase tudo, incluindo nós mesmos. Tudo que seja possivelmente ou minimamente “propagandeável” pode entrar nesse balaio. Dizem que uma pessoa precisa ser impactada de três a sete vezes por propagandas de uma mesma marca para que se torne uma lembrança capaz de fazê-la tomar ação sobre determinado produto. Imagine, então, que 26 milhões de norte-coreanos são expostos diariamente a informações de um governo que praticamente não recebe questionamentos diretos ou encontra oposição interna. Sem concorrência, a informação se alastra com ainda mais facilidade, e a verdade é construída de modo a fortalecer o atual regime e autorizá-lo a atuar com ampla liberdade. Uma das ameaças mais recentes vem de fora, dos vizinhos do sul, com uma série de relatos de música k-pop sendo “contrabandeada” para território dos Kim. O k-pop é, talvez, a maior arma de soft power dos sul-coreanos na diplomacia internacional, e tem se mostrado muito eficaz.
O Mass Games é, possivelmente, a segunda maior e mais importante “peça” de propaganda da Coreia do Norte composta por um grupo gigantesco de seres humanos, atrás apenas dos desfiles militares suntuosos e milimetricamente ensaiados que vemos na TV e que o governo usa para tentar passar ao mundo, e principalmente a países como Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul, uma mensagem de força, um “não se meta comigo” contundente. O evento, a princípio, acontece anualmente, sem data fixa, e é embalado em uma retórica política orbitada pela cultura norte-coreana, suas conquistas ao longo da história — incluindo episódios bélicos —, seus avanços mais recentes e sua projeção para o mundo como um país pacífico, de diálogo e como um agente em busca da prosperidade global. Qualquer mente desavisada pode sair de uma sessão do Mass Games com a ideia de que a Coreia do Norte é a maior nação do planeta.
O evento também é conhecido como Arirang Mass Games. Arirang é um gênero musical popular principalmente nas coreias, e considerado um patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Unesco. As canções influenciadas por esse estilo costumam tratar de partidas, chegadas, reuniões, tristeza e felicidade. De imediato, adjetivos como esses me levam a relacionar o arirang à divisão da península coreana, uma das principais discussões na sociedade coreana atual que traz, na esteira, um desejo de grande parte da população de uma reunificação — o recorte forçado no Paralelo 38 N foi orquestrado por Estados Unidos e União Soviética nos anos 40. Muitas famílias foram separadas e muitas pessoas nunca mais puderam se reencontrar. Gerações de semelhantes coreanos nunca se viram na vida, e não há qualquer perspectiva no curto e no médio prazo de uma reviravolta que mude esse cenário.
Ao cair da tarde de 14 de agosto, saímos de ônibus do hotel em direção ao Estádio Rungrado 1st of May. O Mass Games reúne o impressionante número (aproximado) de 100 mil integrantes em uma sequência de apresentações que duram cerca de uma hora e meia. É tida como a maior demonstração artística humana do planeta. A movimentação intensa ao redor do estádio de acrobatas, ginastas e outros profissionais das artes que fazem coisas bonitas com o corpo chama a atenção enquanto passamos lentamente em nosso ônibus pelas ruas das proximidades. Eles vêm de todas as regiões do país e começam a se organizar já na parte externa — são crianças, jovens e adultos prontos para renovar o sentimento patriótico e mostrar ao mundo uma montagem espetacular.
Os nossos ingressos retangulares na cor de rosa com uma indicação de “3rd Class Seat” em bronze indicavam a nossa área nas arquibancadas dentro do estádio. Depois de algumas fotos em frente ao estádio, somos conduzidos por nossos guias para dentro do recinto, o acesso ao estádio abarrotado de gente depois dos portões principais, mas muito bem organizada. Embora estivéssemos na “terceira classe”, o que me fazia imaginar uma seção de arquibancadas com uma pilastra que atrapalharia a visão, o fato de sermos turistas nos dava o privilégio de ficar em uma área praticamente frontal, no anel inferior do estádio. É natural e esperado que estrangeiros sejam acomodados nos melhores lugares possíveis — melhor do que isso só sendo um membro do governo ou ligado ao governo —, sobretudo em um país que depende bastante da receita do turismo e busca constantemente passar uma boa imagem a quem o visita, uma tentativa de elaborar uma agenda positiva diante de tantos detratores ao redor do mundo.
O 1st of May é um estádio grande. Muito grande. Tão grande quanto é o nome e a representatividade para o povo norte-coreano do homem e da dinastia que ajudaram a fundar a Coreia do Norte. O 1st of May é o segundo maior estádio do mundo, com capacidade aproximada para 114 mil espectadores, embora tenha sido inaugurado em 1989 com capacidade para 150 mil. Atualmente, três quartos da arena têm suas seções com cadeiras — cuja formação tem as cores da bandeira da Coreia do Norte —, a quarta parte sendo totalmente de concreto, um mix entre o padrão antigo de estádios e a modernidade. Por fora, a fachada é formada por cerca de 20 arcos brancos que o circundam completamente. Fomos acomodados nas cadeiras, é claro: tínhamos direito a quase todo o conforto possível e disponível na Coreia do Norte. Mas não só por isso.
A área de concreto estava exatamente do lado oposto de onde estávamos. Todo o anel superior e todo o anel inferior daquele setor eram ocupados aos poucos por uma massa humana de quase 20 mil estudantes muito organizada e disciplinada, que entrava em filas. O que achávamos serem espectadores comuns logo se revelou, para nossa total e absoluta surpresa e fascínio, serem pessoas que formariam mosaicos gigantescos a serem exibidos ao longo dos 90 minutos de espetáculo. Equipados com uma espécie de caderno com páginas de diferentes cores e formatos, eles iniciaram um ensaio — para nós, um aperitivo do que estava por vir. Uma projeção de luzes apoiava na formação dos mosaicos, mas, a grosso modo, todas as imagens eram reveladas de acordo com a movimentação dos cadernos de cada um dos milhares de estudantes. Pareciam desenhos em pixels gigantes. Os mosaicos pré-evento eram formados ao mesmo tempo em que os jovens cidadãos gritavam em uníssono. Para se ter uma noção da grandiosidade e da complexidade daquilo, cada aluno precisava lembrar do seu lugar na arquibancada, se posicionar corretamente, e qualquer um que estivesse no lugar errado comprometeria a composição de absolutamente todos os mosaicos. Dava para pegar no ar a atmosfera de excitação entre os turistas. Éramos mais de 40 pessoas, contando os grupos de outras agências de viagem.
A impecabilidade é uma das marcas do Mass Games, como praticamente tudo na Coreia do Norte, e achar falhas requer assistir repetidamente aos vídeos das apresentações. Ao vivo, o espetáculo é absolutamente perfeito apesar das finas imperfeições. As mais de 100 mil pessoas que formam o elenco do Mass Games ensaiam por meses a fio, e tudo precisa ser aprovado pelo atual líder. A primeira edição ocorreu em 2002, teve um hiato de 2014 a 2017, e novamente ficou fora do calendário em 2021. De forma geral, como já expliquei, o Mass Games não tem data fixa e nunca é garantido que sua próxima edição acontecerá — sabe-se apenas que é um evento anual, teoricamente. Um fato, no entanto, é que o Mass Games quase foi interrompido em 2019, ano em que estive lá. O governo da Coreia do Norte proativemente informou, via sua agência estatal de notícias, sobre as críticas públicas de Kim Jong-un à qualidade do espetáculo, em um momento em que já vinha pedindo por uma nova abordagem na propaganda do país. As palavras contra a organização do Mass Games naquele ano foram proferidas em junho, o que indica que tudo foi corrigido rapidamente, uma vez que dois meses depois meu grupo estaria em Pyongyang a postos para assistir à grande apresentação.
De maneira geral, o povo norte-coreano é muito disciplinado. Não só a disciplina faz parte, de forma, geral, da cultura de alguns países do extremo oriente, mas no caso da Coreia do Norte é possível considerar o fato de que, muitas vezes, a população não vê outra alternativa a não ser se sujeitar às regras do governo, que podem ser bastante rígidas em algumas frentes de atuação. Em meus dias na Coreia do Norte, o Mass Games foi a demonstração mais transparente dessa cultura direcionada à perfeição, que por vezes pode soar repressiva, também observada em outros momentos da viagem, embora menos óbvia, como a visita ao mausoléu dos dois Kims já falecidos, os checkpoints militares nas rodovias intermunicipais, as cooperativas agrícolas, os restaurantes, a proibição de saída do hotel sem um guia à noite e a própria organização e limpeza de Pyongyang — um modelo nacional de cidade com praças gigantescas perfeitamente alinhadas a edifícios e monumentos fabulosos com fachadas em mármore que celebram a ideologia local, o governo e seus líderes. As regras de conduta são ainda mais restritas em Pyongyang, afinal se trata da concentração de quase toda a elite política, econômica, militar e intelectual da Coreia do Norte, e as pessoas que trabalham como guias de viagem para estrangeiros — uma profissão conceituada no país — ficam mais tensas quando estão levando turistas pela capital e só relaxam quando o itinerário segue para outras cidades. Nada pode dar errado em Pyongyang.
Por conta dessa rigidez, mas não apenas por isso, também muito se especula sobre o que acontece na Coreia do Norte de uma forma geral, dada a limitação de informações possíveis de se obter de forma independente ou pela construção bem estudada das mensagens enviadas ao mundo exterior pelo governo ou ao seu próprio povo. Em diversos casos, as fontes são a mídia ocidental, veículos como a Radio Free Asia ou agências de notícias sul-coreanas, como a Yonhap, citando “especialistas” em Coreia do Norte. Nem o próprio Mass Games escapa de uma cobertura questionável, como quando uma reportagem afirmava que os ensaios na rua e nas praças eram tão massacrantes que muitas pessoas dormiam por lá mesmo para que já estivessem prontas bem cedo no dia seguinte para a continuidade dos treinamentos. É difícil acreditar em uma possibilidade tão absurda dessas, mas justamente a falta de informações concretas permite que algo assim não seja totalmente descartado.
Na edição de 2019, intitulada Grand Mass Gymnastics and Artistic Performance - The Land of the People, tudo parecia impecavelmente organizado. Embora pelo menos no nome o tema do evento mude a cada edição, o roteiro essencialmente é muito similar. A montagem do Mass Games mostra o que o país conquistou nos últimos tempos, destaca o seu poder militar e tecnológico, a força de seu povo trabalhador e dedicado e suas intenções para com o mundo exterior, além do enaltecimento aos líderes que já se foram e ao líder atual. Como naquela noite o presidente Kim Jong-un não estava no estádio, estávamos liberados para filmar e fotografar à vontade. Havia, no entanto, inúmeros representantes do governo e dos militares, mas as restrições audiovisuais não se aplicam pela simples presença dessas pessoas, ainda que de alta patente. Ao contrário do que se pensa, as proibições de fotos e vídeos na Coreia do Norte são raras. O estádio não estava lotado, mas contava com bom público, formado por turistas com suas câmeras em punho em uma área delimitada, militares e civis.
O espetáculo é muito colorido e explora um jogo de luzes intenso e constante para impressionar a audiência. O ato inicial traz uma música animada, apenas instrumental, com milhares de artistas ocupando toda a área do tablado sobreposto ao gramado com representações de elementos da cultura e da sociedade norte-coreana em danças igualmente animadas, seus executores totalmente alinhados na coreografia e na movimentação. O mosaico gigante formado pelos estudantes nas arquibancadas logo atrás dos artistas muda de cores e de imagens em um movimento único executado próximo à perfeição — vez ou outra um integrante finalizava a ação um milissegundo depois do combinado. Em muitas das formações aparecem frases e imagens que fazem referência ao trabalho, à educação, à saúde e ao exército, bem como à vida agradável, feliz e próspera em território norte-coreano.
O primeiro ato é encerrado com um corte de luzes faseado e alinhado ao fim do instrumental empolgante. Enquanto ainda estávamos aplaudindo e vibrando com a apresentação inicial, fomos surpreendidos com o início do segundo ato: um foco de luz súbito em uma bandeira enorme da Coreia do Norte carregada lentamente por dezenas de homens e mulheres em um trajeto pelo centro do palco. Os milhares de artistas que até poucos segundos antes tinham dado início ao espetáculo agora se organizavam de forma a criar ondas humanas, mais uma vez em movimentos perfeitos. O segundo ato é acompanhado de uma música instrumental gloriosa, e assim que o trajeto da bandeira termina, um breve rufar de tambores faz crescer a expectativa para o momento imediatamente seguinte: o hino nacional, com a bandeira subindo lentamente rumo ao topo do estádio, naturalmente com todo o público em pé e cantando, exceto os turistas. Se o primeiro ato “introduziu” a Coreia do Norte, o segundo ato já foi uma injeção de patriotismo na veia.
O Mass Games segue nessa toada ao longo de uma hora e meia, com muitas referências militares e bélicas, mas sem perder de vista o enaltecimento da força dos trabalhadores do país, de sua educação e a capacidade norte-coreana de desenvolvimento tecnológico. Um dos momentos mais marcantes — talvez por ser mais fácil de entender visualmente em meio ao alfabeto coreano e à história relativamente complexa da Coreia do Norte — é o que faz referência ao Japão. A narrativa desta etapa da apresentação é muito bem construída, didática, primeiro com uma alusão à invasão da península pelos vizinhos nipônicos, acompanhada de um instrumental melancólico e as brutalidades cometidas contra o povo coreano entre 1910 e 1945, especialmente a partir de 1930, com o objetivo de uma colonização completa, que faria a cultura, os hábitos e o idioma coreano serem dizimados e substituídos. A seguir, com um instrumental cheio de suspense que evolui para notas musicais que remetem a triunfo, o enredo destaca o momento em que a península coreana é libertada dos japoneses, com os vizinhos nipônicos agora sendo assassinados no palco e com as bandeiras norte-coreanas pipocando nas formações coloridas dos artistas e do mosaico gigante ao fundo. O principal personagem dessa etapa era Kim Il-sung.
O mosaico faz de tudo um pouco em relação às imagens. É um pano de fundo para dar contexto adicional ao que é apresentado no palco. Em três momentos, a formação que surge na arquibancada intima o público a participar ativamente do Mass Games: quando os rostos de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un são formados pelo jogo de cores dos estudantes. É absolutamente mandatório que cada unidade de ser humano no estádio fique de pé e permaneça aplaudindo enquanto a imagem dos líderes não é desfeita e o espetáculo continue. A primeira aparição foi tão surpreendente que o vídeo que eu estava fazendo tem um “solavanco” enorme, tamanha a minha surpresa e a necessidade imediata de ficar de pé e aplaudir ininterruptamente (com o telefone celular na mão).
O storytelling do Mass Games é excepcional, o próximo ato sempre é aguardado com expectativa, e a vontade é a de que o espetáculo nunca termine. Na edição de 2019, os Estados Unidos foram poupados de críticas diretas no Mass Games, sendo o único alvo o Japão. Até mesmo a Coreia do Sul escapou, o que não chega a ser tão surpreendente, dado que ambos os países, que partilham do mesmo povo, tratam a reunificação da península com muito cuidado e até com certa prioridade, mas nenhum dos lados dá o braço a torcer nas negociações. A própria reunificação é um dos temas do Mass Games, com uma mensagem de que o norte está pronto para se unir ao sul, mas que o problema não é o governo de Pyongyang ou o povo acima do Paralelo 38 N. Além disso, em uma das rodovias de entrada/saída de Pyongyang há um enorme monumento — uma espécie de pórtico — que faz referência à reunificação, uma prova da importância do tema em um país que celebra suas maiores conquistas e ambições com monumentos grandes e imponentes (atualização/2024: especula-se que, com a deterioração recente das relações entre norte e sul, Pyongyang removeu o monumento da reunificação, em uma atitude enérgica que dá a entender que isso deixou de ser uma prioridade).
As cenas finais do Mass Games pontuam o que a Coreia do Norte tem a dizer para a comunidade internacional, por mais que também isso faça parte do pacote propagandístico do país e nem tudo possa ser considerado exatamente uma verdade absoluta e inquestionável. Apresenta a sua versão de uma política de boa vizinhança e, via mosaico, destacam mensagens como “Por uma independência global”, “Solidariedade, cooperação, boa vizinhança, amizade” e “Relações internacionais multilaterais” — é a única vez em que palavras em inglês são formadas no mosaico —, enquanto no palco os artistas fazem performances correspondentes e iniciam uma interação direta com a plateia, abanando e fazendo gestos amigáveis em direção, principalmente, aos estrangeiros. A Coreia do Norte é um dos países mais isolados do mundo não apenas por iniciativa própria, mas por sofrer uma série de sanções internacionais, capitaneadas pelos Estados Unidos, com o objetivo de sufocar a economia local e forçar uma mudança de regime na parte norte da península. A mensagem norte-coreana, embora positiva, continua não sendo ouvida, ou, no máximo, é acolhida por Rússia e China. Assim, a retórica bélica torna-se a consequência mais lógica, em voga até hoje e intensificada nos últimos anos na medida em que a diplomacia falha impecavelmente ao tentar cumprir seu papel. Uma guerra sempre parece estar prestes a explodir na península corena, cada qual andando com seus objetivos debaixo do braço. Enquanto isso não acontece, permanecem à disposição outras armas, e o soft power, com seus diversos artifícios, tem sido uma alavanca importante.
Uma propaganda efetiva interna e externa do governo da Coreia do Norte que garanta a sua sobrevivência pelas próximas décadas pode pavimentar o caminho para a pessoa que sucederá o atual presidente, Kim Jong-un, e dará continuidade ao planejamento da nação. Já é um assunto ventilado fora das fronteiras norte-coreanas, e acredito ser impossível que nos círculos mais altos do país as conversas já não tenham sido iniciadas. O principal nome é o de Kim Yo-jong, uma das irmãs do líder, embora atualmente seja mais uma especulação da mídia ocidental ou de jornais que seguem a cartilha da mídia ocidental sobre cobertura da Coreia do Norte do que algo embasado na realidade. É fato, no entanto, que a moça tem sido vista ao lado de Kim Jong-un em momentos importantes e tem dado declarações públicas de impacto sob o chapéu do governo, sobretudo direcionadas ao sul. O jogo de palavras também faz a sua própria performance, tal qual o Mass Games e suas mensagens que não deixam margem para dúvidas. É a alma do negócio.